Desenhar é mais do que simplesmente traçar linhas sobre uma superfície — é, antes de tudo, um exercício de atenção profunda. Quando falamos do desenho como escuta visual, estamos propondo uma mudança de perspectiva: desenhar não como um ato de impor formas ao papel, mas como uma forma de escutar com os olhos.
Assim como a escuta exige silêncio interior para acolher o outro, o desenho exige do olhar uma suspensão dos automatismos — aquilo que achamos que vemos — para, então, perceber o que de fato se apresenta. Escutar visualmente é deixar que o mundo fale por meio de suas formas, volumes, luzes, texturas e ritmos. É um ato receptivo, paciente e respeitoso diante da presença do objeto ou da cena.
Nesse sentido, o desenho se aproxima da escuta sensível de um músico diante de uma melodia ou de um terapeuta diante de uma narrativa: não se trata de dominar, mas de acompanhar, compreender e traduzir em outra linguagem o que se revela. O lápis torna-se um instrumento de tradução visual, uma extensão do olhar que se dispõe a captar nuances que só se tornam visíveis para quem está, de fato, escutando.
Ao adotar o desenho como escuta visual, o praticante desenvolve um olhar mais atento, sensível e relacional. Aprende a esperar, a observar sem pressa, a perceber a singularidade de cada forma. O mundo, então, deixa de ser um conjunto de objetos para se tornar um conjunto de presenças. Desenhar, nesse caso, é escutar com os olhos aquilo que as palavras não conseguem dizer.
Acesse o desafio da semana na aba arquivos.